O aumento do consumo de drogas na pandemia

28 de maio de 20215min142
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A pandemia do novo coronavírus trouxe diversas mudanças sociais, comportamentais e emocionais em toda população mundial, acarretando tristeza, dor e transformação. Porém há um grupo de pessoas que estão sofrendo ainda mais: os dependentes químicos.

Nestes meses de isolamento social observou-se um expressivo aumento no número de internações hospitalares decorrentes de drogas ilícitas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, os hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram um aumento de 54% em 2020 no atendimento de dependentes químicos se compararmos a 2019. Este aumento é preocupante pois, nos últimos anos, nunca foi registrado tamanho crescimento.

Este cenário é justificado por diversos motivos. O primeiro deles é a depressão que atinge toda humanidade há pelo menos um século. Durante a pandemia as pessoas se viram obrigadas a ficar reclusas por longo período, tiveram medo de adoecer, perder emprego, ter sua renda diminuída e morrer. Foram tantas as incertezas que muitas pessoas se desesperaram. Do desespero ao mundo das drogas é um caminho fácil e rápido.

Fatos históricos como, por exemplo, a crise financeira de 2008 nos Estados Unidos demonstraram esta tendência. Milhões de trabalhadores perderam emprego e buscaram consolo nas drogas. O mesmo ocorreu com os atentados de 11 de setembro de 2001. De acordo com um relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde, as altas taxas de stress associadas a acontecimentos catastróficos, como a pandemia do coronavírus, induzem ao uso abusivo de álcool e drogas e, nos casos mais dramáticos, ao comportamento suicida.

Outro fato que culminou no crescimento no consumo de drogas é a restrição de circulação. As pessoas que dependem de grupos de apoio não puderam participar das reuniões e, consequentemente, ter o suporte indispensável, a palavra amiga. Sem esse tipo de auxílio é natural que aumente o consumo de drogas e, assim, cresça o número de dependentes. É um processo automático.

Algumas pessoas acabaram de sair de um longo tratamento e lutam, diariamente, contra si mesmos para manterem-se longe das drogas. Após ficarem isolados por um período em clínicas especializadas e convivendo apenas com pessoas em situações similares à sua não tinham ideia da gravidade da pandemia e, muito menos, do que os aguardavam do lado de fora. Ao sair, surgiu um novo quadro de desespero a ser combatido.

Com o aumento no número de usuários o negócio das drogas tornou-se ainda mais próspero e lucrativo. De acordo com informações do Ministério da Justiça, a quantidade de drogas apreendidas nas fronteiras brasileiras multiplicou-se por doze em 2020. Os traficantes adaptaram-se rapidamente ao “novo normal”. No Distrito Federal, por exemplo, para preservar as regras de distanciamento, os traficantes desenvolveram um sistema de drive-thru que permite aos usuários comprar cocaína e maconha sem descer do veículo.

Fato que o problema com as drogas há muito tempo deixou de ser exclusivo de saúde pública. É uma questão multidisciplinar e que deve ser combatida e tratada de forma enérgica, estratégica e intensa, ainda mais agora, com uma pandemia em curso. Os governantes não podem fechar os olhos para o fato ou agir “empurrando a sujeira para debaixo do tapete”. É possível, sim, minimizar os efeitos sociais e sanitários do aumento de consumo de drogas. O primeiro passo é encarar o problema. E, depois, enfrentar.

Vereador Nelson Hossri


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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