Os perigos da droga em forma de doce

24 de abril de 20175min33
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Folha de Pernambuco

É cada vez mais comum a venda de brigadeiros, biscoitos e brownies feitos com maconha nas ruas do Recife. Especialistas alertam para o risco à saúde no consumo desses produtos, considerados ilegais pela polícia

Por: Folha de Pernambuco

Drogas em forma de doces são cada vez mais comuns, apesar de ilegais Foto: Leo Motta/Folha de Pernambuco

Elas parecem deliciosas guloseimas. O recheio, porém, pode dar uma “onda” nada agradável ao organismo, além de sua posse e consumo serem considerados ilegais. Os riscos da ingestão de doces à base de maconha, alertam especialistas, vão desde problemas de digestão, descontrole das funções cerebrais a alucinações.

Nas ruas do Recife tem sido cada vez mais comum a venda de alimentos artesanais, como brownies e brigadeiros, tendo a droga como ingrediente principal. A comercialização dos chamados “brisadeiros” ou “brigajah”, feita ao ar livre, é frequente em bares, em portas de casas de show ou qualquer outro local com grande aglomeração de pessoas. A situação reflete, para a população, a necessidade de uma fiscalização para coibir a prática.

Na avaliação do mestre em Ciência e Tecnologia de Alimento pela UFRPE e especialista em gastronomia alternativa, Rodrigo Rossetti, a situação pode soar como uma brincadeira inocente, mas não é. Ele explicou que, ao ingerir a maconha, a pessoa expõe o organismo a altos níveis de THC (tetra-hidrocanabinol), componente da planta responsável por seus efeitos. “Dependendo do metabolismo, a intoxicação pode durar dias. E não é só isso. Problemas a longo prazo também podem ocorrer. Comendo ou fumando, o THC ataca os neurônios. Na fase adulta, eles não se renovam e, com o passar do tempo, a capacidade de resposta rápida é perdida”, diz.

O perigo é potencializado quando não se sabe a procedência da droga. “Muitas vêm misturadas com outras drogas, como o crack. Nem a pessoa que fabrica tem real conhecimento sobre o processo. As pessoas comem sem ter ideia do mal que estão fazendo a si mesmas”, alerta, acrescentando que, ao comprar, elas contribuem indiretamente com o tráfico. 

A produtora musical M.B.L., de 26 anos, porém, contesta. Para ela, a liberação da erva enfraqueceria o tráfico. “Temos de ressaltar que o combate às drogas tem de ser inteligente. Você não vai acabar com tráfico só com repressão. Por isso, se você legalizar a maconha, certamente iria enfraquecer o tráfico e, consequentemente, reduzir o poder econômico dos traficantes. Não é preciso esse tabu ao falar da erva, se ela mesma é usada para fins medicinais”, pondera. O estudante D.M, 32, faz coro à versão. “É um tema tratado com repressão em vez de ser desmistificado. Outros países estão bem à frente”, critica.

Manteiga verde
A aparência dos doces de maconha é a mesma das guloseimas que as pessoas estão acostumadas a ver em balcões de padaria. A diferença está no sabor, afirmam os consumidores. A substância responsável pelos efeitos da droga é associada a algum tipo de gordura, como a manteiga. Durante o preparo, é essa mistura a responsável pelos efeitos. Procurada, a Polícia Militar informou por meio de nota que a “venda de maconha é crime e, como tal, está passível das punições previstas na lei. No entanto, não há uma linha de investigação específica para essa modalidade de tráfico. Em caso de flagrante, a PM detém o acusado e o encaminha à Polícia Civil”.

 
 

Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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