Heroína: A próxima epidemia de drogas no Brasil ?
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Heroína: A próxima epidemia de drogas no Brasil ?
Ronaldo Laranjeira, Lilian Ratto, John Dunn
O padrão consumo de drogas tem mudado constantemente e de uma forma dramática nos últimos vinte anos no Brasil (1). Até o começo dos anos oitenta praticamente não tínhamos uso de cocaína, pois o acesso desta droga era restrito às pessoas ou muito ricas ou com ligações muito especiais no mundo das artes e negócios. Esta situação mudou rápida e substancialmente por vários fatores. Em primeiro lugar, passou-se a plantar maiores quantidades de coca nos países andinos, visando o mercado americano. Em segundo, os traficantes passaram a utilizar a mesma rede de distribuição que já existia para a maconha e portanto, com maiores possibilidades de atingir um maior número de consumidores. Em terceiro lugar e relacionado com os fatores anteriores, o preço da cocaína caiu muito. Em quarto lugar, no caso especial do Brasil, viramos um país importante na rota do tráfico e por isto, uma parte substancial da droga acaba transbordando para o nosso mercado interno.
Esse fatores contribuiram para a grande mudança do padrão de consumo das drogas nos anos oitenta e começo dos anos noventa. Foi quando aumentou extraordinariamente o consumo de cocaína e as complicações do seu uso. No começo houve um predomínio do padrão de uso da cocaína aspirada, mas em seguida um grande número de usuários passou a injetar-se, o que ocasionou uma das maiores tragédias no campo das drogas no Brasil nas últimas décadas (2). Milhares de usuários acabaram ficando infectados pelo HIV, a maior parte deles já morreu ou acabou infectando suas parceiras e filhos.
A partir do começo dos anos noventa, principalmente em São Paulo uma nova forma de padrão de uso da cocaína passou a ficar mais frequente, que foi a cocaína fumada ou crack (3,4). Este novo padrão ofereceu um novo desafio em termos de prevenção e tratamento pois acabou atingindo um novo tipo de usuário, mais jovem e inexperiente e morador da periferia das Grandes Cidades.
A política de drogas governamental em nenhum momento acompanhou esses mudanças no padrão de consumo. Até hoje não temos uma política de distribuição de agulhas e seringas para os usuários de drogas injetáveis, muito embora todos os países que adotaram essa forma de prevenção tenham colhido frutos muito bons. Por exemplo, no Brasil cerca de 50% dos usuários de drogas endovenosas são HIV positivos, constrastando dramaticamente com a Inglaterra onde somente 1% são infectados. A grande diferença é que, desde 1984 quando do surgimento dos primeiros casos de infecção pelo HIV em usuários de drogas ingleses, passou-se a implementar uma política vigorosa de prevenção com esta população