Entrevista Motivacional: Bases Teóricas e Práticas
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Entrevista Motivacional:Bases Teóricas e Práticas
Flávia S. Jungerman, MSc: Psicóloga clínica e pesquisadora da UNIAD (Unidade de Pesquisas em Álcool e drogas) da UNIFESP
Ronaldo Laranjeira, Ph.D: Psiquiatra e coordenador da UNIAD (Unidade de Pesquisas em Álcool e drogas) da UNIFESP
O conceito de motivação tem recebido uma atenção grande na área das dependências. Esta maior atenção deve-se ao fato de que abandonar o uso de uma substância está por demais ligado a uma série de comportamentos aos quais a motivação está vinculada. A palavra motivação vem sendo usada em medicina e em psicologia significando conceitos diferentes para pessoas diferentes. No geral, a prática clínica tem adotado uma perspectiva de motivação como algo relativamente imutável, ou seja, ou o paciente está motivado para o tratamento e nestas condições o terapeuta teria um papel definido de ajudar a pessoa, ou o paciente não está motivado e então o tratamento não seria possível. Porém, hoje em dia percebe-se que o quadro não é assim tão rígido, isto é, uma técnica denominada Entrevista Motivacional (EM) postula que a aderência do dependente ao tratamento depende de sua motivação, atitude esta passível de ser modificada ao longo do tratamento. O objetivo desta revisão é fazer uma evolução das principais idéias ao redor desta abordagem chamada Entrevista Motivacional, delinear a sua prática e apresentar as evidências empíricas que a sustentam.
O que é motivação
Costuma-se dizer que a motivação de um cliente pode ser avaliada por uma série de comportamentos tais como: concordar com o terapeuta, aceitar o diagnóstico deste (isto é, admitir a dependência de uma droga), expressar vontade de mudar ou de ser ajudado, estar incomodado com sua situação pessoal e seguir os conselhos do terapeuta. De forma oposta, estar „desmotivado‟ (em negação ou resistente), seria ter os comportamentos contrários. Portanto, discordar com o terapeuta é estar „em negação‟ e concordar é „insight‟(1). A questão é que se julga motivação pelo que o cliente diz e a preocupação nesta nova abordagem seria mais o que o cliente faz, já que o que o cliente fala não é garantia de que ele fará o que verbalizou. Assumir um diagnóstico não prediz sucesso de tratamento: muitos dependentes dizem que o são mas não mudam e outros que não se categorizam, conseguem mudar (2,3,4). Não é incomum as pessoas dizerem algo e fazerem diferente.