13 de dezembro de 2024

Internações por overdose de cocaína crescem 53%

16 de janeiro de 20094min26

Entorpecente. No ano passado, 326 pessoas foram socorridas no hospital, contra 213 em 2007

Internações por overdose de cocaína crescem 53% no HPS

Para especialistas, facilidade de acesso e falta de limites do jovem contribuem

Alexandre Nascimento

Depressão, angústia, timidez e influência de amigos. Esses são os motivos que geralmente levam muitas pessoas a abandonarem uma vida saudável para entrar no vício da cocaína, droga cada vez mais usada, inclusive entre os jovens. O ano passado bateu recorde de internações por overdose de cocaína no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), em Belo Horizonte, com 326 casos, aumento de 53% em relação a 2007, que registrou 213. Diretores do HPS não souberam avaliar o motivo desse crescimento. Para o fundador da Associação Brasileira Comunitária para a Prevenção do Abuso de Drogas (Abraço), Elias Murad, a cocaína tem sido mais usada pelos jovens. “A gente tem percebido um aumento razoável no consumo da droga. Acredito que os jovens são os maiores consumidores devido ao fluxo desse entorpecente, ou seja, facilidade para comprar e também por causa do efeito estimulante que ela provoca no corpo humano”, afirma. Responsável pelo atendimento psicológico em clínicas de reabilitação há 12 anos, a especialista Mônica Diniz Labruna acredita que o aumento dos casos de overdose foi causado pelo imediatismo dos jovens.

“A falta de limites, de querer tudo para ontem, faz com que eles se excedam em praticamente tudo. A facilidade de conseguir droga também estimula esse aumento. Hoje em dia, a pessoa pode pedir cocaína pela Internet e receber em casa, não precisa mais subir o morro e correr riscos, como antigamente”, explica.

O número de pessoas que procuram tratamento também tem aumentado. Na Associação Fazenda Renascer, que fica em Pedro Leopoldo, região metropolitan, oito dos 30 dependentes químicos internados no mês passado usavam cocaína. O tratamento durante a internação em cada clínica ou fazenda para reabilitação é variado. Geralmente é baseado em trabalho, pois assim a pessoa perde substâncias tóxicas pelo suor em disciplina, com horários determinados e oração nas organizações com cunho religioso. A desempregada Tatiana (nome fictício), 36, teve uma overdose aos 30 anos. Atendida no Odilon Behrens com taquicardia e várias alucinações, por pouco não morreu.

Ela precisou tomar um coquetel de medicamentos para que seu organismo se normalizasse. “Não me lembro de nada do que aconteceu naquele dia”, afirma a mulher, que começou a usar drogas aos 14 anos, quando experimentou maconha. Aos 16, passou a usar cocaína. “Não gostei da primeira vez que cheirei. Não consegui dormir. As minhas pupilas pareciam que iriam saltar”, disse a mulher, que hoje faz tratamento no Centro Mineiro de Toxicomania (CMT). Assim como Tatiana, outros 94 pacientes tentaram se livrar do vício da cocaína no CMT no ano passado, sendo 63 deles na faixa entre 18 e 40 anos. Desse total, 16 eram mulheres.

Frase

“Vendi cocaína em 2002 e em 2003 no edifício Maleta. Meus principais clientes
eram ricos e, para alguns, eu ia de táxi entregar a droga”

Tatiana, 36
desempregada


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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