Simpósio Drogas, Saúde & Direito aborda transtornos mentais associados às drogas na ANM

13 de outubro de 20167min0
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Jornal do Brasil

Em mais um Simpósio de grande relevância científica, a Academia Nacional de Medicina sediou importante debate sobre a problemática das drogas no Brasil. O Simpósio foi organizado pelos Acadêmicos Francisco Sampaio e Antonio Nardi, além do Desembargador Siro Darlan e a Juíza Maria Lúcia Karam, e contou com importantes discussões sob as mais variadas perspectivas. 

Coube ao Acadêmico Antonio Egídio Nardi discorrer sobre “Transtornos Mentais Associados às Drogas”, que iniciou sua conferência fazendo a diferenciação dos principais tipos de drogas:drogas naturais (como a maconha), sintéticas (ecstasy e LSD) e semi-sintéticas (heroína, cocaína).Também apresentou comparativo a partir dos efeitos de cada uma delas, separando-as entre drogas depressoras, estimulantes e alucinógenas. Como principais efeitos das drogas depressoras é possível destacar o prejuízo de atenção (déficit cognitivo), relaxamento, lentidão de reflexos e irregularidade de coordenação muscular (ataxia). Já com relação às drogas estimulantes, os efeitos estão relacionados à sensação de euforia, excitação, diminuição do sono e do apetite, podendo chegar à quadros de psicose. Por fim os efeitos das drogas alucinógenas incluem sensação alterada do tempo e do espaço, sensação de prazer ou medo intenso, ideias de grandeza e delírios paranoides (desconfiança e suspeição).

Psiquiatra, Acadêmico Antonio Nardi 

Chamou atenção para o fato de que o conceito de drogas não se limita apenas às drogas ilícitas, e que existem diversos tipos de drogas cujo consumo considerado “banal”, dificulta identificar comportamentos de consumo abusivo e de dependência, além de serem menos discutidos. Como exemplo de drogas lícitas que possuem alto risco de dependência, é possível destacar a cafeína, com efeitos agudos como agitação, irritabilidade, insônia, alteração digestiva, náusea, cefaleia, diurese e taquicardia, e quadros crônicos de hipersônia e cefaleia (dor de cabeça); e o álcool, cujos efeitos agudos incluem quebra das inibições, euforia, depressão, diminuição da consciência e estupor, podendo desencadear efeitos crônicos como obesidade, impotência, psicose, úlceras, subnutrição, danos cerebrais e hepáticos.

Para ilustrar a gravidade das situações geradas a partir da dependência de drogas consideradas lícitas, o psiquiatra relatou estudo de caso de paciente com grave dependência de álcool, apresentando como comorbidade quadro de depressão e risco de suicídio. Segundo o estudo apresentado, o tratamento consistiu no uso de antidepressivos e psicoterapia cognitivo-comportamental, que resultou na prevenção de recaídas no alcoolismo e redução do risco de suicídio. Os resultados encontrados apontam que o diagnóstico precoce da depressão associado ao alcoolismo é de extrema importância pois, uma vez que realizado por profissionais treinados, torna-se indispensável para minimizar o risco de suicídio nestes pacientes. 

O psiquiatra apresentou aqueles que acredita serem os principais motivos que levam as pessoas ao consumo de drogas, destacando o desejo de experimentar o novo, fuga de sofrimento ou rotina, a sensação de prazer em comportamento arriscado, a “romantização” do uso de drogas pela mídia e o desejo de socialização, destacando neste último caso a vulnerabilidade da população jovem. 

Em seguida, apresentou estudo sobre o uso do cannabidiol (princípio ativo encontrado na maconha) como um ansiolítico, destacando que esta é a droga mais utilizada em todo mundo – cerca de 20% da população mundial de jovens utilizam de forma abusiva e regular. Os resultados encontrados sustentam a possibilidade do uso do cannabidiol como uma nova droga com propriedades ansiolíticas, uma vez que não possui efeitos psicoativos e não afeta a cognição, configurando um perfil de segurança adequado. Apesar de haver a necessidade de estudos complementares devido à variedade de efeitos no sistema nervoso, estudos dessa natureza representam um grande avanço na utilização de drogas para fins terapêuticos, como feito outras vezes no passado. 

Na conclusão de sua conferência, o Acadêmico Nardi destacou as principais razões pelas quais é necessário cautela e parcimônia ao se discutir um tema tão complexo quanto drogas, uma vez que seu uso envolve múltiplos riscos à saúde, como lesões permanentes no cérebro (e outros órgãos), o desenvolvimento de dependência, risco de intoxicação, alterações no comportamento, dentre outros. Além deste fato, o consumo de drogas pode configurar uma “porta de entrada” para doenças mentais em pacientes com predisposição.


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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