Corredores do tráfico: BR-060 é rota do comércio de drogas no DF
5 de setembro de 201710min56
Correio Braziliense
Depois da BR-060, as vias com maior número de apreensões pela Polícia Civil são as BRs-040 e 070.
Isa Stacciarini, Thiago Soares
Duas toneladas de maconha foram apreendidas em uma área rural de Posselândia (GO), a 263 km de Brasília
A droga que os usuários consomem chega ao Distrito Federal especialmente pela BR-060, um entreposto entre Goiás e Mato Grosso do Sul. Segundo o chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR) — cuja Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes (DRE) está vinculada —, Kel Lúcio Souza, entre 90% e 95% da carga que chega em Brasília vem por estradas. O restante para no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. “O DF tem a maior renda per capita do Brasil. Por isso, para o traficante, acaba sendo vantajoso. Mas as apreensões estão se mantendo. Elas aumentam à medida que há mais fiscalização e investigações com mais êxito. Portanto, dependem de períodos sazonais. No DF atuam os traficantes que têm influência regional e que possuem um consumidor com alto poder aquisitivo”, ressalta.
Em 18 de junho, por exemplo, a Polícia Federal apreendeu a maior quantidade deste ano: 2 toneladas de maconha em uma área rural de Posselândia (GO), cidade localizada a 263km de Brasília e a 55km de Goiânia. O produto veio do Paraguai e seria comercializado em Valparaíso de Goiás (GO), Recanto das Emas e Ceilândia, segundo a polícia. Em 9 de julho, três homens acabaram presos com 750 quilos de maconha próximo ao Gama. E, em 31 de julho, na casa de um rapaz em Samambaia, a polícia encontrou aproximadamente 40kg de maconha, 600g de crack e 200g de cocaína.
Depois da BR-060, as vias com maior número de apreensões pela Polícia Civil são as BRs-040 e 070. Por esse motivo, as cidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia ficam como as de maior concentração de drogas. “Isso pode ser justificado pelas proximidades com as estradas e por serem cidades com número alto de usuários. Essas quadrilhas entregam os entorpecentes para traficantes que são responsáveis pela distribuição entre pequenos vendedores, que lidam direto com o usuário”, esclarece o delegado titular da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), Leonardo de Castro.
Consumo
Ao longo de 10 anos, no entanto, houve uma mudança no quadro de apreensões na capital do país. Antes, a merla — um subproduto da pasta de coca — tinha grande circulação no DF. Hoje a presença do entorpecente é menor. “A merla foi praticamente extinta do nosso território, mas, por outro lado, aumentou o crack que, vindo de São Paulo, adentrou Brasília. Diferentemente da merla, essa droga é de fácil transporte e não perde validade”, detalha o investigador.
A maconha permanece como a campeã de apreensões e uso. Em segundo lugar aparece a cocaína com 118,7kgs apreendidos até junho deste ano e 105kg em todo o ano passado. O crack vem depois, com 41,9kg apreendidos neste ano e 141,8kg em 2016. “Acreditamos que o consumo de maconha aumentou devido às aclamações pela liberação e, também, pelo fato do uso não resultar em prisão. O consumo da cocaína cresceu depois que passaram a comercializar a escama de peixe, um modo mais puro da droga”, esclarece Leonardo.
Fronteiras
Em âmbito nacional as cargas entram pelas fronteiras com países andinos. Os maiores produtores de cocaína são a Colômbia, o Peru, a Bolívia e a Venezuela. O Paraguai lidera a maconha. Já o México e uma parte da Colômbia lideram na comercialização da heroína. A partir dessas localidades, a droga entra pela fronteira seca do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e do Amazonas.
As mercadorias também chegam pelos rios, como ocorre em Manaus. Mas, para a PF, apesar das apreensões no DF, os principais destinos ainda acabam sendo o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e o sul do país. “É muito difícil controlar o ingresso pelas regiões fronteiriças no Brasil. Temos uma fronteira seca com os maiores produtores de cocaína e maconha que é três vezes maior que a dos Estados Unidos com o México. Portanto, nossa condição geográfica é muito ruim”, destacou o delegado Kel Lúcio Souza.
Para o integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Tione, não há uma razão específica que explique a maior quantidade de apreensões de drogas na capital do país. “Se pensar na questão econômica, porque o tráfico é um negócio, mesmo que ilegal, as apreensões podem ter crescido em virtude do maior volume de drogas oriundas da organização das quadrilhas. Em geral, esse não é o único fator que contribuiu com o resultado. Pode ser a questão de um trabalho efetivo maior das forças de segurança, usando mais recursos de inteligência e combate ao tráfico, por exemplo”, considera.
O começo do fim
Confira os efeitos de algumas drogas
Crack/Cocaína: O uso pode levar num primeiro momento, a uma elevação de autoestima e poder, seguidos de cansaço, insônia e perda de apetite. O uso contínuo pode levar à morte por falha respiratória, hemorragia cerebral ou ataque cardíaco.
Maconha/ Haxixe/ Skang: Os efeitos são variados. Em alguns usuários provoca euforia, já em outros, angústia. No geral, a maconha proporciona um relaxamento que pode levar à perda da noção do tempo e espaço. O uso intenso pode acarretar em distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade e até síndrome do pânico.
Ecstasy: As sensações imediatas são de euforia e perda de inibições. Depois disso, o corpo pode sofrer queda de pressão e ânsia de vômito. Com o tempo, o usuário aumenta as doses em virtude de não fazerem mais efeito. Com o uso excessivo, as oscilações de euforia e melancolia podem levar à depressão. A droga eleva a temperatura do corpo e pode levar à morte.
Lança-perfume: Provoca tontura, formigamento dos membros e zunido no ouvido. O coração se torna mais sensível à adrenalina, o que pode causar ataque cardíaco.
LSD: O uso altera a sensopercepção, que é ligada aos orgãos de sentido como visão, tato, audição, olfato e paladar. É uma droga alucinógena e seu uso excessivo pode levar à persistência de ter sempre os sentidos alterados.