O tratamento psiquiátrico no Brasil virou um “Robin Hood às avessas”

Com preocupação e indignação, venho me manifestar sobre a queda de 53% no número de leitos psiquiátricos disponíveis pelo SUS entre 2013 e 2023, uma realidade que atinge diretamente a população mais pobre. No mesmo período, houve um aumento de quase 19% na oferta de leitos no setor privado. Isso escancara uma inversão perversa: enquanto os mais vulneráveis ficam sem acesso ao cuidado adequado, os mais ricos continuam sendo atendidos.
Um verdadeiro “Robin Hood às avessas”.
O SUS recua;
O setor privado avança;
O resultado? Os pobres são deixados à própria sorte.
A pandemia agravou ainda mais a situação, com o aumento de casos de depressão, ansiedade, dependência de drogas, jogos e suicídio. E o que o SUS fez? Fechou 13 mil leitos em uma década.
Mesmo com a ampliação dos CAPS, esses serviços não estão preparados para acolher pacientes em surto ou com quadros graves. A internação virou um “luxo” de quem pode pagar quando, na verdade, deveria ser parte de uma rede integrada e acessível a todos.
A psiquiatria moderna é humanizada, ética e eficaz. Mas sem políticas públicas consistentes, ela continua fora do alcance da maioria.
Está na hora de abandonar discursos ideológicos e encarar a realidade: saúde mental também é prioridade. E o SUS precisa voltar a cuidar de quem mais precisa.
Texto completo: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/04/tratamento-psiquiatrico-no-brasil-e-robin-hood-as-avessas.shtml
Ronaldo Laranjeira
Médico psiquiatra especialista em álcool e drogas, é professor titular de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina/Unifesp e presidente da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina)