Mulheres lutam para escapar do vício do álcool e drogas
A Cidade – Ribeirão Preto
Número de usuárias de álcool e drogas que recorrem ao CAPS-AD para se curar da dependência mais do que dobra em 7 ano
Jornal A Cidade – Mariana Lucera
“Eu não ficava meia hora sem usar crack. Cheguei a beber até três ‘corotes’ de pinga em um mesmo dia”, conta R.S, 39 anos. Em sete anos, o número de atendimentos de mulheres viciadas em álcool e drogas mais que dobrou no CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas) de Ribeirão Preto. (Veja gráfico abaixo).
Nesse período, 892 mulheres passaram pelo local, buscando ajuda para se libertar do vício e voltar a viver em sociedade. R. é uma delas. Integrante do grupo de tratamento há dois dias ela diz que a chance de se libertar é agora. “Minha irmã queria me internar, mas vou tentar sair dessa”, afirma.
A psicóloga e coordenadora do CAPS, Gisela Oliveira Marchini, explica que o objetivo do Centro é oferecer suporte. “Isso leva tempo, não é só o uso da droga. A grande maioria dos pacientes tem questões psicológicas e emocionais que os levam a usar o entorpecente ou o álcool. Nós não trabalhamos com a abstinência total, ela faz parte de um percurso do tratamento”, explica Gisela.
Lúcia Elena dos Santos, 44 anos, começou a beber depois que a filha de 14 anos morreu em um acidente de carro. Em seguida veio a separação do marido e a volta para a casa da mãe. “Comecei a beber e isso acabou com a minha vida, com meu casamento. Perdi minha filha, veio a depressão, os problemas na família. Hoje eu estou há mais de um ano sem beber”, afirma Lúcia.
Nesse tempo, ela tem frequentado o grupo no CAPS, com as oficinas oferecidas, como tapeçaria, crochê, mosaico entre outras. “Quando dá vontade eu arrumo alguma coisa para fazer e não beber”, conta.
E.N.R., 25 anos, procurou o CAPS depois que o marido ameaçou se separar e pedir a guarda do filho deles de 5 anos. Usuária de crack, está há dois dias sem usar nada.
“Do pó passei para o crack. Deixava meu filho com meu sogro e ia para a favela, atrás da droga. Já aconteceu de me perguntar ‘o que eu tô fazendo aqui?’. Hoje, não quero que meu filho me veja morrer”, afirma.
O vício de Conceição Rodrigues de Souza, 58 anos, é a pinga. Ela está sem beber há seis meses, desde que começou a frequentar o Centro. “Já perdi emprego bom, já fui até internada no Santa Tereza. Tenho dois filhos e eles querem que eu me livre da bebida”, conta.
Traumas levam às drogas
A coordenadora do CAPS-AD, Gisela Oliveira Marchini explica que o uso das drogas, assim como do álcool, está muito ligado ao abandono precoce que esses pacientes sofreram durante a vida, além de um quadro de depressão e miséria.
“É por isso que temos uma equipe multidisciplinar para atender a essas pessoas. Os pacientes que procuram ajuda por vontade própria têm mais chances de abandonar as drogas do que aqueles que chegam aqui forçados”, explica a psicóloga.
Segundo ela, todo o tratamento está ligado ao vínculo do sujeito com os profissionais.