Maconha, depressão e suicídio na adolescência

21 de janeiro de 20158min0
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Por Dr Cláudio Jerônimo da Silva – psiquiatra

É difícil dizer onde tudo começa: todo adolescente precisa um pouco mais de espaço e privacidade. Passa mais tempo sozinho, no quarto. Depois desenvolve uma vida um pouco mais independente e fica muito mais tempo fora de casa, fala menos com os pais, não quer compartilhar sua intimidade com o adulto, não gosta de falar dos seus sentimentos, irrita-se facilmente, dorme muito, sente bastante fome.

Essa descrição parece parte do desenvolvimento normal de um adolescente, mas eventuais complicadores não podem passar despercebidos. Os mais importantes são o uso de maconha e a depressão. Especialmente porque existe uma associação entre essas duas condições clínicas, cujos sintomas podem ser confundidos, aos olhos menos atentos, com comportamentos pontuais da adolescência. A confluência da juventude, da depressão e da maconha costuma ser explosiva, literalmente. O jovem deprimido que fica no quarto, isolado, sem querer conversar, também tem uma tendência muito maior a ser impulsivo, a se envolver em comportamentos mais arriscados, e o uso de maconha perpetua o sintoma depressivo. O suicídio é a evolução mais trágica, nunca imaginada, mas que infelizmente acontece, no momento em que menos se espera. Algumas vezes ela não é planejada. É impulsiva. Outras, é planejada. Ninguém fala, é segredo, tabu. Mas acontece. E as chances de acontecer com jovens deprimidos e usuários de maconha são maiores do que os outros. Mesmo que o problema seja identificado, as possibilidades continuam existindo. Os conflitos sobre o uso da maconha, a resistência com o tratamento e a dificuldade de monitoramento constante são sempre um risco. Mas o melhor remédio continua sendo a intervenção precoce. Quanto antes o problema for identificado, maiores as chances de evitar o desfecho trágico. E a identificação é sempre feita em casa, pela família. Portanto, adolescentes precisam de pais por perto, atentos, interados do que estão fazendo, de como estão se sentindo, mesmo que eles não gostem nada disso.

Referências

Clarke MC1, Coughlan H, Harley M, Connor D, Power E, Lynch F, Fitzpatrick C, Cannon M.

The impact of adolescent cannabis use, mood disorder and lack of education on attempted suicide in young adulthood.World Psychiatry. 2014 Oct;13(3):322-3. doi: 10.1002/wps.20170.

Lundholm L, Thiblin I, Runeson B, Leifman A, Fugelstad A.

Acute influence of alcohol, THC or central stimulants on violent suicide: a Swedish population study. J Forensic Sci. 2014 Mar;59(2):436-40.


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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