Homenagem da UNIAD no Dia Internacional da Mulher com Dra. Eloisa Arruda

4 de março de 201617min0
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“Tenho garra, foco e determinação para alcançar meus objetivos” Eloisa Arruda

*Por Adriana Moraes

A UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) parabeniza todas as mulheres, pelo Dia Internacional da Mulher, comemorado dia 08 de março.

Neste mês especial de comemorações, tive a felicidade de conversar com a ilustre “Dra. Eloisa de Sousa Arruda” Procuradora do Ministério Público de São Paulo, uma mulher dedicada que honra sua profissão e os demais colegas.

Eloisa é admirada e respeitada por todos. Formada em direito pela PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), cursou mestrado em Direito Processual Penal e Doutorado em Direito das Relações Sociais,é professora de Direito Processual Penal na mesma Universidade, desde 1989.

Em 1985 ingressou no Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP),foi a primeira mulher a atuar no cargo de diretora da ESPM (Escola Superior do Ministério Público) em 23 anos de história daquela instituição, realizou um belíssimo trabalho como secretária de Justiça, na Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, participou da criação do Programa Recomeço do Governo do Estado de São Paulo, Eloisa é uma mulher riquíssima em humildade e competência.

A digníssima Dra. no momento, atua como Procuradora de Justiça na Procuradoria de Habeas Corpus e Mandado de Segurança do Ministério Público de São Paulo.

Coragem para mudar“

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“Coragem para mudar“ esse é o lema de campanha da Dra. Eloisa, candidata ao cargo de Procuradora Geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo, cabe destacar que caso seja eleita será a primeira mulher a ocupar esse cargo desde o início de sua criação, mais uma vez será a primeira.

Entrevista:

O que a motivou seguir carreira na área da Justiça e em que momento da sua trajetória profissional, iniciou o trabalho com a dependência química?

Iniciei a Faculdade de Direito na PUC-SP em 1979 e já no segundo ano do curso resolvi que seria Promotora de Justiça. Sempre gostei de trabalhar com populações vulneráveis e, ainda na faculdade, comecei a estagiar na Penitenciária do Estado prestando assistência jurídica aos presos pobres. Depois, me tornei Promotora na área criminal. E trabalhei durante muitos anos no Tribunal do Júri, lidando com crimes contra a vida.

O trabalho com a dependência química teve início quando me tornei a Secretária da Justiça de São Paulo, no ano de 2011. Uma das minhas primeiras ações  foi implantar a COED (Coordenação de Política sobre Drogas) exatamente pela percepção que tinha da necessidade de dar atenção especial a este grave problema da sociedade em que vivemos.

Quais foram os projetos que marcaram a sua carreira?

Foram duas carreiras, a de Promotora de Justiça e a de professora universitária. Sempre atuando na área criminal.

Além dos casos emblemáticos nos quais atuei como Promotora, destaco especialmente o trabalho que realizei no Tribunal Penal Internacional em Timor Leste (2001-2002). Ali, além de contribuir com minha atuação no Tribunal, vi nascer a primeira nação do novo milênio, pois estava quando eleita a primeira assembléia nacional constituinte, a constituição foi escrita e, após, houve a primeira eleição para Presidente da República daquela jovem nação.

Na Secretaria da Justiça, foram muitos os projetos interessantes. Foi a oportunidade de maior aproximação que tive com mulheres em situação de vulnerabilidade. Rica experiência. Me aproximei das mulheres do campo. As que lidam todos os dias trabalhando na terra, de sol a sol, produzindo os alimentos que vão para os pratos das nossas famílias. Mulheres maravilhosas, fortes, dignas. Muitas delas arrimo de suas famílias. 

Mulheres quilombolas, lutando para preservar suas tradições e sua cultura. Orgulhosas do passado de luta, resistência e superação dessas comunidades.

As mães dos dependentes químicos. Histórias de perseverança e coragem. Nunca desistir dos filhos. Em relação a estas, o meu acolhimento muitas vezes foi físico: segurar as mãos, abraçar, olhar nos olhos e às vezes chorar junto. Elas queriam compartilhar o drama e pedir ajuda.

Em parceria com o Fundo de Solidariedade do Estado de São Paulo, implantamos os Centros de Integração da Cidadania (CISs), as Escolas de Moda, a Escola de Beleza e as padarias artesanais. Esse trabalho reforçou a minha vontade de trabalhar pela criação, no ano de 2012, da Coordenadoria da Mulher, no âmbito da Secretaria da Justiça, com o objetivo de implementar políticas pública para a população feminina de nosso Estado.

Foram muitos projetos e ações importantes nas mais diversas áreas. O combate ao tráfico de pessoas e ao trabalho escravo; a ampliação do atendimento e apoio às vítimas de crimes graves (CRAVI); a criação do programa de proteção as crianças ameaçados de morte (PPCAM); as ações para combater a homofobia e o racismo; os programas de atenção aos dependentes químicos e seus familiares; a utilização dos recursos do Fundo de Interesses Difusos (FID) para inúmeros projetos ambientais; a construção de fóruns; e o restauro do prédio histórico da Secretaria da Justiça; entre outros.

Em 2010, a Sra. foi a primeira mulher eleita para o cargo de diretora na ESPM, como foi atuar na direção da Escola Superior?

Abrimos o ano letivo com uma palestra maravilhosa do Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamin. Um sucesso! E a partir daí não paramos mais. Foram centenas de eventos. Todos os dias e noites. Alguns no sábado. Abrimos as portas da ESMP para todos os bons projetos que chegaram às nossas mãos. Trazidos pelos próprios colegas ou por outras instituições. Atendemos demandas pontuais de cursos visando ao aperfeiçoamento funcional.

Enfim, foi um ano de grande vitalidade e aprendizado. No ano seguinte, fui convidada pelo governador Geraldo Alckmin, que acabara de ser eleito, para assumir a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. Aceitei, porque era algo muito importante, uma forma de marcar a posição do meu Ministério Público dentro do Governo do Estado de São Paulo. E procurei fazer isso da melhor forma possível.

A matéria da Revista Brasileiros em 02/04/2012 dizia: “Eloisa de Sousa Arruda, decreta guerra ao crack e faz a diferença em um governo de muitos homens”, como foi esse trabalho de combate as drogas e por que a Dra. fez a diferença?

Foi um trabalho iniciado com a implantação da COED. Precisávamos reunir as boas práticas já existentes no âmbito do governo e identificar as carências. Foram dezenas de reuniões envolvendo as áreas da justiça, saúde, desenvolvimento social e segurança pública. Além disso, percebemos que seria necessário juntar as ações do estado e do município para obtermos bons resultados.

Passo importante foi a implantação, no CRATOD, do atendimento multidisciplinar para os dependentes químicos e seus familiares. Ali tivemos a real dimensão dos problemas pois as filas de atendimento eram intermináveis.

Eu precisei ser muito forte para suportar as inverdades lançadas por alguns pessimistas no sentido de que tínhamos a intenção de realizar a internação forçada e indiscriminada dos dependentes químicos.

Também precisei ser forte, como mulher, para abrir os braços e acolher as muitas mães que, olhando dentro dos meus olhos, me pediam ajuda para os seus filhos. Como mãe de dois jovens, confesso que muitas vezes fiquei com o meu coração partido. Compreendia o sofrimento delas.

Naquele momento, resolvemos pedir apoio do Amor Exigente, exatamente para assistir as famílias no seu sofrimento.

Coroando o nosso trabalho, veio o Programa Recomeço que hoje tem importante dimensão no atendimento à dependência química no Estado de São Paulo.

Sempre contamos com a ajuda de pessoas maravilhosas, dedicadas e comprometidas às quais serei eternamente grata. Não vou nominá-las para não correr o risco de ser injusta.

A Sra. é um exemplo de mulher, conquistou o respeito e o carinho das pessoas, qual o segredo para ser tão querida por todos e quais são seus hobbys?

Agradeço o elogio. Acho que o fato de ser espontânea, alegre e gostar das pessoas facilita aproximações. Recebo ótimas energias com esta troca e a vida me proporcionou muitos amigos queridos.

O que mais gosto de fazer quando não estou trabalhando é estar com meus dois filhos. Somos amigos, parceiros, adoramos viajar ou simplesmente fazer uma caminhada juntos. Os dois são muito brincalhões e se divertem com a minha mania de levar tudo a sério.

Desde menina, gosto de cozinhar. Forma de expressar amor e amizade. Se puder cozinhar ouvindo bossa nova ou jazz, melhor ainda. Filha de cearense com mineira, aprendi a apreciar a variedade de aromas e sabores do nosso Brasil. E depois do mundo. Meu paladar curioso e despido de preconceitos foi o que me salvou no tempo em que passei em Timor Leste. Tudo muito exótico! 

Também me encanta o cinema. Sempre ilustro minhas aulas com filmes que assisti. Na literatura, ultimamente ando interessada pelos romances históricos, e pelos autores angolanos como Pepetela e Agualusa. Boa literatura em português. 

Como já mencionei anteriormente, a Sra. esteve presente desde o início da criação do Programa Recomeço do Governo do Estado de São Paulo e durante um ano e meio fez parte do programa representando a Secretaria da Justiça. Quais foram seus melhores momentos no Programa Recomeço? 

Sem dúvida, os melhores momentos foram aqueles nos quais vimos as pessoas que estavam em situação da rua por causa da dependência química, reestabelecer seus laços familiares e conseguirem emprego. Confesso que chorei algumas vezes.

Na equipe da UNIAD temos várias profissionais competentes, a Sra acredita que hoje as mulheres estão conquistando um espaço maior no mercado de trabalho? 

As mulheres vêm se firmando nas mais diversas atividades profissionais. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, elas já representam 38% dos médicos e 43% do total de advogados, juízes e promotores do país. No setor público, de acordo com pesquisa do IBGE, ocupam 58,9% dos postos de trabalho. No ano passado, um estudo realizado em âmbito global constatou que a participação feminina nas grandes empresas do Brasil aumentou de 25% em 1997 para 47% em 2014.

Os dados apontam que o mundo do trabalho caminha para ser cada vez mais híbrido, pois as mulheres têm demonstrado que o que faltava era espaço para atuar, e não competência e dedicação. Mas a sociedade ainda vê a casa como um espaço essencialmente feminino: somos treinadas desde cedo para assumir o cuidado com os filhos e as tarefas domésticas ou de organização do lar. Por isso, muitas de nós relutam, ainda que inconscientemente, contra uma mudança. Eu mesma, confesso, nunca soube dividir estas responsabilidades. E mesmo quando fui para Timor Leste, contei com a ajuda de outras mulheres. 

Dra. Eloisa, por gentileza, deixe uma mensagem para as leitoras do site da UNIAD.

Minha mensagem é de incentivo para que persistam na busca de realização dos seus sonhos. Sempre conscientes da força transformadora das mulheres no seio da sociedade.

Que somos o modelo para muitas mulheres que ainda não conquistaram seu espaço de plena dignidade. Que a nossa condição feminina não nos fragiliza, nos fortalece. 

Agradecemos sua participação e desejamos-lhe boa sorte em sua trajetória, que a Sra. continue vencendo!

Finalizo com uma frase da Dra. Eloisa Arruda (extraída de sua rede social): “Tenho garra, foco e determinação para alcançar meus objetivos”. 

Que a ilustre Procuradora continue sendo um exemplo a ser seguido por todos nós!

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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