EUA põem vice-presidente venezuelano em lista de suspeitos por vínculo com narcotráfico
O vice-presidente da Venezuela entrou para o radar dos Estados Unidos nesta segunda-feira. O Departamento do Tesouro afirmou que incluiu Tareck El Aissami no grupo de sancionados devido ao seu “papel significativo no narcotráfico internacional”, o que faz dele o mais alto funcionário venezuelano a ser punido por Washington. Com a decisão, o Governo de Donald Trump abre uma nova frente na América Latina e redobra a pressão sobre Caracas iniciada por seu predecessor Barack Obama.
Além de El Aissami, na lista de sancionados figuram o empresário venezuelano Samark José López Bello e várias empresas. As sanções implicam o congelamento de todo patrimônio ou ativo que os listados tiverem em território norte-americano, assim como a proibição de realizar transações comerciais com cidadãos dos EUA.
Cidades norte-americanas como Miami são zonas privilegiadas pelos “boliburgueses”, a oligarquia que floresceu à sombra do chavismo, para investir.
O novo lote de sanções amplia as já emitidas pelo democrata Barack Obama em março de 2015 com base em uma lei aprovada meses antes pelo Congresso que abria o caminho para a penalização de altos funcionários venezuelanos. Na ocasião, Obama incluiu sete altos funcionários venezuelanos responsáveis por segurança e justiça do Governo de Maduro, que acusados de serem responsáveis pela “erosão dos direitos humanos” no país. Além disso, para grande indignação de Caracas, Obama declarou uma “emergência nacional” em relação à Venezuela, um instrumento que permite ao Executivo, em determinadas circunstâncias, ir além do que já foi aprovado no Congresso para adotar sanções contra um país.
A reformulação do gabinete de Maduro no início do ano voltou a colocar a Venezuela na pauta do Congresso norte-americano.
Na semana passada, 34 legisladores, tanto congressistas como senadores republicanos e democratas assinaram uma carta pedindo a Trump para impor novas sanções “imediatas” a funcionários venezuelanos “responsáveis por violações de direitos humanos e corrupção”, incluídos, ressaltavam, “os suspeitos de envolvimento na crise alimentar venezuelana”. Os legisladores também pediam que as agências norte-americanas “investiguem de forma exaustiva” a “conduta e atividades” do novo vice-presidente venezuelano, Tareck El Aissami, com base nas informações que ligam o novo número dois venezuelano a “corrupção, narcotráfico e influência de organizações terroristas na Venezuela”.
Venezuela, no radar de Tump
Diferentemente do México, a Venezuela não está na primeira linha de ataque da retórica de Trump. Mas é um país pelo qual o presidente republicano se interessou em repetidas ocasiões de forma mais discreta.
Há um mês, dias antes de assumir a presidência, Trump recebeu em seu escritório na Torre Trump em Nova York um grupo de hispânicos, entre eles o ex-embaixador da Guatemala em Washington Julio Ligorría. Segundo confirmou este ao EL PAÍS, o magnata mostrou um interesse particular pelo país sul-americano. Trump “perguntou sobre a Venezuela”, revelou. E se interessou especificamente pela situação de dois políticos opositores encarcerados pelo Governo de Nicolás Maduro, Leopoldo López e Antonio Ledezma, de acordo com as fontes.
Nas últimas horas, a Venezuela voltou a ser tema de conversação na Casa Branca. Segundo o comunicado oficial do Governo Trump, durante a chamada que Trump fez no domingo ao presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, o norte-americano “manifestou preocupação com os acontecimentos na Venezuela, incluída a situação humanitária naquele país”. Trump também conversou nos últimos dias com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, mas Washington ainda não emitiu uma nota oficial sobre a conversa. Mas emitiu uma sobre a conversa de sexta-feira entre Santos e o vice-presidente, Mike Pence, que também falou com o presidente argentino, Mauricio Macri. Com ambos, Pence combinou “manter uma comunicação fluida sobre assuntos hemisféricos”, disse a Casa Branca.
O interesse de Trump pela Venezuela poderia ter um caráter pessoal. Um dos clubes privados de luxo que o magnata agora presidente tem na Flórida está em Doral, localidade popularmente conhecida como “Doralzuela” devido ao grande número de residentes venezuelanos, situação que o teria sensibilizado mais sobre a situação do país sul-americano.
Mas Trump não é o único do novo Governo norte-americano com histórico venezuelano. O novo secretário de Estado, Rex Tillerson, também tem, há muito tempo, uma conta pendente com o Governo chavista. O texano era chefe da Exxon Mobil quando o então presidente Hugo Chávez nacionalizou a indústria petroleira na década de 2000, feito que provocou grandes perdas à companhia dirigida por Tillerson. Ambos se enfrentaram nos tribunais internacionais e, finalmente, Exxon Mobil fechou um acordo por 1,6 bilhão de dólares, muito menos que os 10 bilhões em que tinha estimado suas perdas na Venezuela pouc causa da manobra do Governo.