Consumo de crack pode se tornar epidemia

16 de março de 20096min6

Consumo de crack pode se tornar epidemia

Anderson Costa

Estudo realizado recentemente nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador aponta para o surgimento de uma possível uma epidemia do uso do crack no País. Segundo o levantamento, coordenado pelo Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, usuários dessa droga já respondem por cerca de 40% dos atendidos nos centros de tratamento em dependência química dessas capitais.

Números revelados pela Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) mostram que em Goiás a situação não é diferente. Em 2007, as apreensões de crack feitas pelas Polícias Civil e Militar em todo o Estado totalizaram de 28 quilos. Já em 2008, esse número saltou para 110 quilos.

De acordo com o titular da Denarc, Izaías de Araújo Pinheiro, o aumento no consumo da droga não estaria ligado somente ao seu baixo custo. “O crack aos poucos vem substituindo a merla, pois, além se ser também muito barata, a droga pode ser facilmente transportada pelo usuário ou traficante. Enquanto que a merla é uma espécie de pasta, o crack é vendido em pedras bem pequenas. Ou seja, isso faz com que o usuário esconda facilmente a droga da polícia”, explica o delegado. Ainda de acordo com o titular da Denarc, em Goiânia uma pedra de crack pode ser vendida entre R$ 5 e R$ 10. Já a cocaína, muito consumida entre pessoas das classes média e média alta, tem um preço médio de R$ 30 por papelote.

Para se ter uma ideia do baixo custo do crack, Izaías Araújo explica que com um quilo de pasta base é possível produzir 2,5 quilos de cocaína pura, já no caso do crack, a mesma quantidade de pasta base pode gerar até cinco quilos da droga.

Pontos críticos

Segundo dados da Polícia Militar, em Goiânia a concentração de pontos de venda e consumo do crack estão nas regiões Centro-sul e Noroeste. “Vila Coronel Cosme, Vila Lobô, Setor Pedro Ludovico e Emílio Póvoa, na região Centro-sul ou Jardim Curitiba e Jardim Nova Esperança, na Região Noroeste nesses locais é registrada a grande maioria das ocorrências, envolvendo o uso de crack”, revela o assessor de comunicação da Polícia Militar, tenente-coronel Sérgio Katayama.

Ainda segundo o policial militar, apesar do crack já ter chegado às classes média e média alta, 90% de seus usuários estão nas camadas mais pobres da população. Katayma explica como funciona o ciclo da droga. “Em geral quem experimenta o crack já passou por outras drogas como a maconha, cocaína e o próprio álcool, por isso procura algo que dê mais efeito. Como o crack causa dependência facilmente, em pouco tempo o usuário fica sem dinheiro para manter o vício. É quando ele começa a cometer outros crimes como furto, roubos, latrocínios e próprio tráfico da droga. Ou seja, de cliente, o usuário vira facilmente empregado do traficante, que não usa a droga”, afirma.

Perfil de usuários

Há cinco anos o psicólogo Vitorino Rodrigues de Souza trabalha exclusivamente com dependentes químicos. Com sua experiência profissional, ele aponta um perfil básico do usuário de crack. “O consumo maior está entre a população mais pobre, a faixa etária pode variar de 15 a 45 anos, e a grande maioria dos usuários é de homens”, conta.

Ainda de acordo com o psicólogo, quem usa a droga, que também é conhecida como “beijo da lata”, tem uma outra peculiaridade. “Os usuários do crack, em geral, estão no final da reta do consumo de drogas, ou seja, a pessoa já experimentou várias drogas e está à procura de algo mais forte”, esclarece o especialista.

Vitorino explica que o efeito do crack é muito intenso, porém, o seu poder de vício também. “Quem experimenta a droga já fica dependente no terceiro uso”, revela.

O psicólogo acredita que, além do preço baixo, o efeito rápido, a grande intensidade e a facilidade de seu consumo são outras características que aumentam cada vez mais o uso do crack. “A droga age rápido, o seu efeito é muito intenso, mas só que o poder destrutivo do crack é maior do que qualquer outra droga”, alerta. O período de fissura do crack (momento de efeito da droga) não passa de cinco minutos, o que, segundo Vitorino, faz com que o usuário procure uma maior quantidade da substância, num período cada vez mais curto.


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



Newsletter


    Skip to content