9 de outubro de 2025

Dia Mundial da Saúde Mental: refletindo sobre o impacto do álcool

9 de outubro de 20255min29
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*Por Adriana Moraes

O consumo de álcool permanece como o principal fator de risco para adoecimento e mortalidade associados ao uso de substâncias psicoativas no Brasil.
Os achados do III Levantamento Nacional sobre o uso de Álcool e outras Drogas (LENAD, 2023) evidenciam a amplitude desse fenômeno: aproximadamente 73,9 milhões de brasileiros, o equivalente a 42,5% da população com 14 anos ou mais, relataram consumo de bebidas alcoólicas, enquanto cerca de 19,9 milhões atendem aos critérios diagnósticos de Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) ou apresentam uso problemático.

O álcool, embora socialmente aceito, está entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e insônia. Seu uso interfere no equilíbrio neuroquímico cerebral, impacta o humor, o sono e a capacidade de lidar com situações de estresse. O consumo excessivo também está associado a intoxicações, acidentes, violência e comportamentos autodestrutivos, ampliando os prejuízos à saúde mental e social.

Segundo o III LENAD, 11,9% dos adultos brasileiros, cerca de 21 milhões de pessoas, apresentam transtorno relacionado ao uso de álcool, condição que engloba desde o uso nocivo até a dependência propriamente dita. A prevalência é mais do que o dobro entre homens (17%) em comparação às mulheres (7,1%), refletindo desigualdades estruturais nos padrões de consumo. Ainda que mais da metade da população seja abstinente, entre os que bebem predominam padrões de uso abusivo: em média, 5,3 doses por ocasião, e 44,6% dos bebedores o fazem nessa intensidade semanalmente.

O consumo pesado episódico, relatado por 60,3% dos bebedores (aproximadamente 59 milhões de adultos), está diretamente associado a agravos à saúde física e mental.Apesar da gravidade do problema, a busca por tratamento especializado permanece limitada. Apenas 4,8% das pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool procuraram algum tipo de cuidado ao longo da vida.

O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) é o principal serviço formal de referência, mas grupos de apoio e redes familiares continuam exercendo papel fundamental no acolhimento e na recuperação.

A amostra total do III LENAD foi composta por 16.608 brasileiros com 14 anos ou mais.

Risco adicional: bebidas adulteradas
Além dos prejuízos associados ao consumo abusivo, o Brasil enfrenta atualmente um aumento preocupante nos casos de intoxicação por metanol, presente em bebidas adulteradas ou produzidas de forma clandestina. Essa intoxicação, muitas vezes confundida com uma simples ressaca, pode atrasar o diagnóstico e comprometer o tratamento adequado.

Neste Dia Mundial da Saúde Mental, é essencial reforçar que cuidar da saúde mental envolve também o enfrentamento do uso nocivo de álcool e a atenção aos riscos das bebidas adulteradas. Reconhecer os sinais de intoxicação, buscar ajuda especializada e fortalecer redes de apoio são passos indispensáveis para promover bem-estar e prevenir agravos.

 

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

 

Imagem de Лечение Наркомании por Pixabay

 


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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