Maconha, os dois lados da moeda: o THC e o CBD

9 de junho de 20164min27
f6021123f440eebed534086b2c863baa

(imagem reprodução)
 
Por conter substâncias que atuam no Sistema Nervoso Central, a maconha tem um grande potencial para o bem e para o mal. Ela é composta de diversos tipos de canabinoides – os mais conhecidos são o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol(CBD). O THC se destaca para o mal: é responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos. Já o CBD funciona para o bem: possui diversas possibilidades terapêuticas e até efeitos protetores contra os danos do próprio THC, incluindo efeitos antipsicóticos. O problema é que os efeitos benéficos do CBD não compensam os maléficos do THC quando a maconha é fumada.
Além disso, nas últimas décadas, tem se observado aumento nos níveis de THC e diminuição nos níveis de CBD nas variedades de maconha consumidas. As consequências são desastrosas para os usuários, principalmente na esfera mental. Especificamente, usuários de variedades ricas em THC e pobres em CBD estão sob risco maior de quadros psicóticos, de diminuição volumétrica de áreas cerebrais responsáveis pela memória, planejamento e execução de tarefas e de diversos tipos de prejuízos cognitivos. Já o modo pelo qual o CBD protege os neurônios da degeneração induzida por THC permanece incerto, mas esse potencial tem despertado interesse em estudar o CBD para tratamento de várias doenças.
Sobre o THC, acumulam-se evidências de que é o responsável não apenas pela dependência, mas por todos aqueles diversos outros efeitos maléficos. Um estudo de revisão publicado em abril de 2016 naBiological Psyhicatry, uma das mais conceituadas revistas de Psiquiatria, ressaltou as principais alterações cerebrais encontradas em estudos com usuários de longo prazo de maconha. A maioria deles iniciou o uso entre 15 e 17 anos de idade, por períodos que variam entre 2 e 23 anos. As áreas cerebrais mais afetadas são aquelas também com maior densidade de receptores canabinoides CB1: ocorrem diminuições volumétricas e de densidade de matéria cinzenta no hipocampo (associado à memória), nas amígdalas, no estriado ( região cerebral ligada ao sistema motor e comportamento), no córtex orbitofrontal, no córtex insular e no cerebelo. São regiões cerebrais relacionadas à memória, à emoção, à tomada de decisão e ao equilíbrio motor.
Pode-se concluir que não é possível fumar maconha para obter os efeitos benéficos do CBD. É preciso separá-lo do THC. Exatamente por isso que a maconha não deve ser considerada remédio. O potencial efeito terapêutico está apenas no CBD .
 
Ref: Lorenzetti, V Solowij N, YucelnM.The role of cannabinoids in neuroanatomic alterations in cannabis users.Bio Psychiatrtry . 2016;79 (7): e17-31
 
 
Dr. Claudio Jerônimo Silva – Psiquiatra e Diretor da Unidade Recomeço Helvetia ( Com foto)
 

Dr.Marco Antonio N. Echevarria ( Psiquiatra especialista em dependência química – AME Psiquiatria Jandira Masur)


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



Newsletter


    Skip to content