Viagra, um suspeito no doping

22 de dezembro de 20084min24

Por JERÉ LONGMAN
SCRANTON, Pensilvânia – Quando George Downey, 19, se ofereceu como voluntário para tomar Viagra para um estudo na Universidade Marywood, com outros jogadores de lacrosse (espécie de hóquei canadense), foi zombado por seu treinador. “As pessoas estão rindo de mim. Mas, no fundo, querem saber se tenho alguma dica para dar”, brincou ele.
Só que o estudo feito em Marywood não envolve a atividade sexual, e sim a esportiva. É financiado pela Agência Mundial Antidoping, que está pesquisando se os comprimidos azuis geram uma vantagem competitiva injusta, na medida em que dilatam os vasos sangüíneos do atleta e aumentam indevidamente sua capacidade de transporte de oxigênio. Se isso for constatado, a agência estudará a possibilidade de proibir o medicamento.
O Viagra, ou citrato de sildenafil, foi criado para tratar a pressão sangüínea alta nas artérias pulmonares. A droga suprime uma enzima que controla o fluxo sangüíneo, permitindo que os vasos se dilatem. O mesmo mecanismo facilita o fluxo de sangue para o pênis de homens impotentes. Em atletas, o transporte mais eficiente de combustível oxigenado aos músculos pode elevar a resistência.
“O Viagra permite ao atleta competir com capacidade aeróbica de nível do mar, estando em altitudes maiores”, disse Kenneth Rundell, diretor do Laboratório de Performance Humana em Marywood.
Alguns especialistas são mais céticos. Anthony Butch, diretor do laboratório olímpico de exames de drogas na Universidade da Califórnia em Los Angeles, disse que seria “extremamente difícil, senão impossível” comprovar que o Viagra confere vantagem competitiva, visto que as diferenças de performance seriam pequenas. Mas, disse Butch, alguns atletas não precisam de comprovação de que uma droga funciona para a utilizarem. Basta acreditarem que funciona.
Um estudo da Universidade Stanford, na Califórnia, indicou que, em alguns participantes, a ingestão do Viagra melhorou sua performance em quase 40% em testes de tempo em percursos ciclísticos de 10 km realizados em uma altitude simulada de 3.870 metros, muito superior àquela em que costumam ser realizadas as competições esportivas. O Viagra não melhorou a performance significativamente ao nível do mar, onde os vasos sangüíneos saudáveis já estão plenamente dilatados.
Em maio, o ciclista Andrea Moletta foi tirado do Tour da Itália depois de uma busca no carro de seu pai ter encontrado 82 comprimidos de Viagra, , segundo a imprensa. Uma investigação foi encerrada sem acusação formal de doping.
O estudo de Marywood está medindo os efeitos potenciais do Viagra como antídoto à poluição ambiental.
Pesquisas indicam que a poluição causa hipertensão pulmonar. Se esta puder ser aliviada, para atletas, com o uso do Viagra, “a performance será aumentada”, disse Rundell, pesquisador chefe do estudo.
O menor prazo em que a Agência Mundial Antidoping poderia proibir o Viagra seria setembro de 2009, a cinco meses das Olimpíadas de Inverno de 2010, em Vancouver. “Creio que será uma decisão fácil”, disse Rundell. “Está claro que o Viagra confere uma vantagem injusta, pelo menos em altitudes maiores.”


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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