Antônio Geraldo: uso da cannabis no Brasil – ciência, saúde pública e o debate que não pode ser adiado

O PL 399/2015 reacendeu o debate sobre o cultivo de cannabis no Brasil sob o argumento de “uso medicinal”. Mas a ciência é clara: a planta in natura não é um medicamento. Ela contém mais de 500 substâncias químicas, variações imprevisíveis e ausência total de padronização, requisitos indispensáveis para qualquer fármaco seguro. Por isso, nenhuma agência internacional aprovou a planta como remédio, apenas compostos purificados como o canabidiol isolado.
As evidências científicas mostram riscos importantes: aumento de psicoses, prejuízos à memória e atenção, maior número de acidentes, alterações emocionais e potencial de dependência. Em um país com altos índices de ansiedade e depressão, ampliar o acesso a uma substância que pode agravar esses quadros é uma medida arriscada.
A experiência internacional confirma: onde houve flexibilização, cresceram o consumo, a dependência, as intoxicações e a presença de produtos com altos teores de THC. O tráfico não desapareceu; ao contrário, coexistiu com o mercado legal oferecendo produtos mais baratos.
Num Brasil emocionalmente fragilizado e com o SUS já sobrecarregado, mudanças legislativas desse impacto não podem ocorrer com pressa. O debate precisa ser técnico, responsável e transparente.
Conclusão:
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
