29 de março de 2024

Por que, diante de situações “parecidas”, algumas pessoas se precipitam num ato suicida e outras não?

6 de maio de 201911min4
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*Por Adriana Moraes

A melhor forma de ajudar uma pessoa que fez ou está considerando fazer uma tentativa de suicídio é realmente ouvindo e desenvolvendo uma sensibilidade para o seu sofrimento

Depressão e dependência química, transtornos mentais que levam ao suicídio. O tratamento das doenças psiquiátricas é fundamental para que ele não aconteça. O suicídio vem ganhando proporções alarmantes! Esse tema é de grande importância, principalmente, por conta do grande aumento de pessoas que tiram a própria vida em nosso país.

Diariamente vemos na mídia notícias de pessoas que interrompem seu futuro, encerrando sua vida. Levar informações corretas à população é uma das formas de alertar sobre a prevenção do suicídio. É importante tomar cuidado ao falar sobre o assunto, não devemos informar detalhes específicos do método utilizado, bem como não devemos julgar e citar culpados. Falar do suicídio é o primeiro passo dentro da estratégia de prevenção. Porque, falando nós estamos compartilhando informações importantes, trazendo o tema à tona e assim permitindo a construção de uma rede de proteção que envolva toda a sociedade. [1]

Há momentos em que a vida se torna um peso, a pessoa se encontra ou acredita que está com um problema aparentemente sem saída, com muita dor e sofrimento, na qual ela não consegue achar uma saída para resolver esse dilema. Nesse período é preciso pedir ajuda para poder continuar, mas muitos, infelizmente não conseguem lidar com a frustração e decidem acabar com a sua dor. Foi exatamente o que aconteceu recentemente com uma jovem de 17 anos que no auge de sua juventude, se matou. Pela autópsia psicológica, estava com depressão e há algum tempo sua vida perdeu o sentido, o brilho. O que leva uma jovem bonita, aparentemente saudável e cheia de vida acabar com a sua vida?

Suicídio é um assunto extremamente obscuro e incompreensível, porém importante, quantos adolescentes estão com pensamentos suicidas e a qualquer momento podem fazer o mesmo? A jovem em sua rede social de uma forma intensa fazia muitos pedidos de ajuda. É comum pessoas que cometem suicídio dar alguma indicação de intenção, muitas vezes os sinais não são assim tão fáceis de serem percebidos. Mas, através de suas mensagens ela demonstrava que não estava bem e que não suportava mais tanta dor. Neste caso trágico, algumas situações de risco poderiam ter sido identificadas precocemente, mas a menina ganhou apenas dezenas e centenas de curtidas, mas infelizmente, ninguém mais próximo percebeu seu pedido de socorro.

O suicídio ainda figura como um enigma sem resposta, sobre o qual nos debruçamos, pesquisamos, estudamos, na tentativa de compreendê-lo. Diante da complexidade desse fenômeno, resta-nos a questão: afinal, por que as pessoas se matam? Por que, diante de situações “parecidas”, algumas pessoas se precipitam num ato suicida e outras não? [2]

Geralmente um fator desencadeante, que leva a sensação de o problema e o sofrimento não ter saída. Fatores de proteção como o apoio de familiares, amigos, bem como o tratamento dos transtornos mentais, fará a diferença em um momento de desespero.

Transtornos mentais

Os transtornos mentais mais comumente associados ao suicídio são: depressão, transtorno do humor bipolar, dependência de álcool e de outras drogas psicoativas. Infelizmente, muitas vezes os transtornos mentais não são detectados ou não são adequadamente tratados. A população seria muito beneficiada se fosse informada a esse respeito: como reconhecer uma doença mental, quais os tratamentos disponíveis, sua efetividade e onde obter apoio emocional. Provavelmente, muitos seriam encorajados a procurar ajuda.

Em uma análise de 15.629 casos de suicídios, 36% ocorreram devido a transtornos de humor e 22,4% devido os transtornos causados pelo uso de substâncias psicoativas.[3]

Grafico

Segundo informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é um transtorno comum em todo o mundo: estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com ele. Uma das fases da vida mais propícias para o aparecimento da depressão é a adolescência. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano – sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos.

Pesquisa da UNIFESP

Matéria publicada no site UOL Notícias trouxe detalhes da pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria. O estudo indica que a chance de um adolescente do sexo masculino tirar a própria vida é até três vezes maior do que uma adolescente mulher. O estudo mostrou também que as garotas tentam se matar mais, mas as tentativas dos meninos são mais letais. São formas diferentes de cometer o suicídio, os meninos se matam mais por enforcamento e armas de fogo, enquanto as meninas utilizam pesticidas e drogas ou se jogam de lugares altos. [4]

Prevenção do suicídio envolve a todos

A melhor forma de ajudar uma pessoa que fez ou está considerando fazer uma tentativa de suicídio é realmente ouvindo e desenvolvendo uma sensibilidade para o seu sofrimento. Uma pessoa, quando chega ao ponto de considerar um gesto suicida, provavelmente já tentou todo tipo de recurso que estava disponível para ela. Então, se, nesse momento, precisa dar esse grito de socorro, é provável que todo o resto que ela podia conceber já falhou; ela já não vê mais alternativas, outras maneiras mais adequadas de buscar ajuda. Nesse momento, é necessário parar e pensar o que é que está acontecendo na vida dessa pessoa que a leva a comunicar dessa maneira sua necessidade de ajuda, de apoio. [2]

Finalizo, lembrando que a prevenção do suicídio envolve a todos. Como vimos, nem sempre é possível perceber os sinais que podem desencadear o ato suicida, bem como não podemos prever com certeza quem tentará cometer suicídio. Provavelmente um adolescente não irá ler esse texto, no qual poderia entender que precisa de ajuda, que depressão e dependência química têm tratamento e que o suicídio não será a saída para seus problemas.

Precisamos mostrar ao jovem que há alternativas ao suicídio através do tratamento, mostrando casos de superação das ideações suicidas. E cabe aos profissionais de saúde notificar as tentativas de suicídio sob a Lei nº 13.819.

Novidade: Lei nº 13.819

Foi sancionada a nº Lei nº 13.819 de 26 de abril de 2019, que institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. A nova Lei prevê a notificação compulsória de tentativas de suicídio e automutilação. Pela regra, estabelecimentos de saúde e escolas tanto públicas como privadas, ficam obrigados a registrar os casos. No caso dos estabelecimentos de saúde, como hospitais públicos e privados, a notificação deverá ser feita às autoridades sanitárias. Já as escolas deverão notificar os casos aos conselhos tutelares. Os registros deverão ser sigilosos. [5]

Onde encontrar ajuda

– CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
– SAMU – Importante lembrar que tudo que envolve o suicídio é uma emergência médica, em casos de urgência é necessário chamar o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), através do número 192.
– CVV – (Centro de Valorização da Vida) através do número 188.

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:

[1] Trigueiro, André, 1966 – Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo/André Trigueiro – São Bernardo do Campo. SP: Correio Fraterno, 2015.
[2] https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Suicidio-FINAL-revisao61.pdf
[3] http://www.abp.org.br/manual-de-imprensa
[4] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2019/04/27/suicidio-cai-no-mundo-mas-cresce-ate-24-entre-adolescentes-no-brasil.htm
[5] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13819.htm


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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