Sr. Miguel Tortorelli contrário à descriminalização do porte de drogas falou sobre o assunto para os leitores da UNIAD

27 de março de 201714min6
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*Por Adriana Moraes

 Quem usa droga não afeta apenas a si mesmo, mas também o entorno social que está à volta dele

 O consumo de drogas ilícitas e o tráfico são dois problemas gravíssimos que afetam nossa sociedade. Discute-se no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação que determina a descriminalização do consumo e porte de drogas em nosso país. Três ministros votaram pela inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas nº 11.343/2006,  foram a favor da descriminalização da maconha, ignorando os prejuízos causados pelo uso da erva.

 A dependência química tem um efeito perturbador e prejudicial sobre a vida do dependente e de seus familiares. Desde 1984, o Amor Exigente atua como apoio e orientação aos familiares de dependentes químicos e também para pessoas com comportamentos inadequados. É um programa de auto e mútua ajuda que desenvolve preceitos para a organização da família, que são praticados por meio dos 12 Princípios Básicos e Éticos, da espiritualidade e dos grupos de auto e mútua-ajuda que através de seus voluntários, sensibilizam as pessoas, levando-as a perceberem a necessidade de mudar o rumo de suas vidas e do mundo, a partir de si mesmas. [1]

 

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 Convidamos o Sr. Miguel Tortorelli vice-presidente da Federação do Amor Exigente (FEAE), que representa 100 mil familiares de dependentes de drogas no Brasil, para falar sobre a descriminalização de drogas em nosso país.

 Cabe destacar que em junho de 2015 o Sr. Miguel Tortorelli esteve em Brasília conversando com o ministro Gilmar Mendes relator do processo sobre a descriminalização das drogas. Na reunião também estavam presentes os psiquiatras Dr. Ronaldo Laranjeira e Dra. Ana Cecília Marques. Sr. Tortorelli falou em nome das 100 mil famílias de dependentes químicos atendidas gratuitamente todo mês e por todos os coordenadores do Amor Exigente.

 Família do dependente químico

 Muitos alegam que o consumo de drogas não afeta terceiros. Quem usa droga não afeta apenas a si mesmo, mas também o entorno social que está à volta dele. Além de atingir o núcleo familiar, essa pessoa coloca em perigo as suas relações sociais. Se uma pessoa usa cocaína, ela perde o sentido da realidade, perde até o domínio sobre a sua própria vontade. Ela se sujeita a realizar qualquer tipo de ato para satisfazer o seu vício. Essa pessoa é agressiva, perde o sentido de obediência ao sistema legal e ao sistema social, ao convívio social. Então, essa pessoa não afeta só ela própria. O indivíduo prejudica todos que estão à sua volta, e não somente a si mesmo. [2]

 Pesquisa realizada pelo do LENAD Família (Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos) apontou que pelo menos 28 milhões de pessoas vivem no país com um dependente químico e que os familiares sofrem com a doença de seu ente querido, sendo as mães as mais atingidas apresentando um número maior de sintomas físicos e psicológicos decorrentes do uso de seus filhos.

 O estudo mostrou que mais da metade dos familiares relatou que sua habilidade de trabalhar ou estudar foi afetada com o consumo de substâncias de seu familiar, enquanto metade refere que o uso de seu parente incomoda e atrapalha sua vida social. Quase um terço relatou que seu familiar rouba seus pertences ou pede emprestado e não devolve e 12% já foram ameaçados pelo parente dependente. [3]

 

Entrevista:

 1ª) Sr. Miguel qual a opinião do Sr. sobre a descriminalização do uso da maconha em  nosso país?

 Sou contra. Descriminalizar significa absolver, inocentar. Portanto, autoriza o uso, inocenta o traficante. Um absurdo porque, a cada dia, pesquisas como a da Universidade Federal de São Paulo e livro coordenado pelo psiquiatra Dr. Ronaldo Laranjeira comprovam que maconha  causa dependência, com sintomas  de  abstinência 24 horas após o último uso, ansiedade, depressão, inquietação , insônia e retardo psicomotor. Como alerta o psiquiatra Valentim Gentil, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP “Se o Brasil seguir a tendência de outros países e legalizar a indústria da maconha, nós teremos uma fábrica de esquizofrênicos”. Maconha hoje já é droga  de criança de oito  anos, de classe média, em São Paulo se  for descriminalizada estamos colocando em risco  o futuro do país.

 

2ª) A descriminalização da maconha será um passo equivocado? Por quê?

Será! Porque vai ficar pior do que já  está. Drogas já são a causa do maior problema  de  saúde pública no Brasil. Inacreditável porque temos leis federais em vigor – o Estatuto da  Criança do Adolescente e a lei 11.343/2006 que proíbem uso, tráfico e manter drogas em depósito. Se  descriminalizar, vai autorizar o uso e, portanto, portar quantidades de  drogas não será mais crime. E o prejuízo vai ficar com as famílias. Existe  dor maior para pais do que ver filho doente? Existe dor maior para os pais do que ver filho escravo de drogas? Quem defende a descriminalização odeia  famílias.

 

3ª) Quais seriam os impactos da descriminalização e  de que forma o Brasil poderá impedir que crianças e/ou adolescentes se afastem do contato com as drogas?

 Com campanhas  de prevenção nas  escolas públicas e particulares a partir dos  seis anos. Com campanhas  de prevenção a pais nas CIPAS (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) das  empresas, dos bancos. Enfim, campanhas  de prevenção para filhos, pais, professores, empresários. Além disso, cumprir as leis em vigor – o Estatuto da  Criança e do Adolescente  e  a lei 11.343/2006. Resumindo: é preciso vontade política.

 

4ª) Como o Supremo pode pensar em descriminalizar o uso e não legalizar a venda? As pessoas poderão usar, mas onde irão adquirir as drogas? Não é algo contraditório?

É piada  de mau gosto. Querem enganar  quem? Dessa forma vão oficializar a figura do traficante.

 

5ª) Como resolver o problema do consumo excessivo de drogas?

 Com vontade política, cumprindo leis em vigor que proíbem uso de drogas, aumentando as  vagas no SUS (Sistema Único de Saúde) para  tratamento eficaz para a recuperação e, principalmente, com campanhas  de prevenção para pais, filhos, professores, enfim, para toda a população. Por incrível que pareça, a maioria dos brasileiros  desconhece  que experimentar droga é risco para uma doença gravíssima chamada  dependência química. Informação correta, sem preconceitos e a partir dos  seis anos em todo o país e com todos os meios de comunicação possíveis.   

 

 6ª) Qual a importância dos grupos de ajuda Amor Exigente?Os 100 mil dependentes  de  drogas e suas  famílias que atendemos, por mês, em todo o País, gratuitamente, são o retrato da importância do que  fazemos. Se não fosse o Amor  Exigente onde  estariam estes 100 mil dependentes e suas  famílias? 
As famílias são acolhidas, informadas e orientadas sobre a dependência química. Elas têm que ficar em pé para poderem ajudar seus entes queridos. E os dependentes junto com seus iguais e com os mesmos objetivos de sobriedade se fortalecerão para continuar nessa batalha.

7ª) Como foi a conversa com o Ministro Gilmar Mendes em 2015?

O ministro é um homem gentil. Ouviu ao prof. Ronaldo Laranjeira; Dra. Ana Cecília fez muitas perguntas, disse que foi de muita valia a conversa, concordou quando falamos do sofrimento das  famílias, mas  é o relator no Supremo Tribunal Federal (STF) da ação que quer tirar da lei 11.343/2006 no artigo 28, que proíbe tráfico, uso e guardar drogas. Ficou de nos convocar novamente para outra conversa, porem no dia seguinte despachou favoravelmente pela inconstitucionalidade do artigo 28.

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Agradecemos Sr. Miguel Tortorelli pela sua participação no site da UNIAD.

 *Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

 

Referências:

 [1] http://amorexigente.org.br/quem-somos/

 [2]http://www.uniad.org.br/interatividade/noticias/item/24921-aumento-da-repress%C3%A3o-ao-tr%C3%A1fico-de-drogas-reduziria-n%C3%BAmero-de-presos

 [3] http://inpad.org.br/wp-content/uploads/2013/11/PressFamilia.pdf

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 





Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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