29 de março de 2024

Homenagem da UNIAD ao Dia Internacional da Mulher com a participação especial da Dra. Fátima

4 de março de 201718min0
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“Nós mulheres temos uma missão: SER FORTES” Dra. Fátima

*Por Adriana Moraes

Neste mês tão importante em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, através da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) tive a alegria de conversar com a especialista em dependência química, **Dra. Maria de Fátima Rato Padin.

Dra. Fátima é psicóloga Doutora em Ciências pelo Departamento de Psiquiatria da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), além de ser uma linda mulher, é uma profissional muito competente e dedicada. Faz parte da equipe da UNIAD desde 2002, coordenou o ambulatório de adolescentes no período de 2005 a 2007, em 2010 coordenou o curso A Clínica da Dependência Química e Adolescência, é pesquisadora da UNIAD/UNIFESP desde 2005.

Padin foi uma das responsáveis pela pesquisa realizada pelo Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (LENAD – Família), o estudo revelou que as mulheres (66%) são as responsáveis pelo tratamento do dependente de álcool e/ou de substâncias ilícitas, além de ser a maioria das entrevistadas (80%). Essas mulheres, de acordo com a pesquisa, sofrem forte impacto negativo e têm uma sobrecarga de cuidar do filho dependente e ser responsável pelos cuidados da família. [1]

Em 2016 lançou com outros colaboradores o Livro “Toninho e a poção da falsa felicidade”. O livro conta a história de Toninho e mostra o quanto é nocivo o uso de substâncias ilícitas para quem usa e para os seus familiares. A exposição a experiências como violência doméstica, abuso infantil, ausências prolongadas e negligência, muitas vezes, manifestam-se na forma de sintomas físicos e psicológicos. Crianças e familiares tornam-se uma população vulnerável e com necessidades de atenção e cuidados especiais. [2]

 

livro toninho

Entrevista:

O que a motivou seguir carreira na área da saúde e em que momento iniciou seu trabalho com a dependência química?

Iniciei minha vida profissional na área da educação. Fiz magistério no Instituto de Educação Beatíssima Virgem Maria, fui professora de alfabetização e cursei Faculdade de Psicologia. Assim que terminei a Universidade convidaram-me para ser psicóloga escolar. Durante esse período, o colégio incentivava projetos com os alunos que contribuíssem com a formação integral além da acadêmica.

A equipe de orientação educacional, professores desenvolveram um projeto inovador “Orientação Sexual Sistemática” apoiado e incentivado pela Diretora IR Monica de Moraes. O projeto tinha vários objetivos dentre os quais: questões de gênero, a discussão da sexualidade de forma ampla e abrangente e a busca de escolhas responsáveis e assertivas. Ganhamos reconhecimento nacional e internacional e vimos à necessidade de ampliar o projeto para “Prevenção do Uso de Drogas na Escola”.

Assim como no projeto de Orientação Sexual, procuramos cursos de especialização. E, após uma longa busca nas Universidades, encontrei o “Curso de Especialização em Dependência Química na UNIFESP/ UNIAD” que daria maiores subsídios ao nosso novo projeto de Prevenção ao Uso de Drogas. No curso de alta excelência, exigia como pré-requisito a apresentação de casos clínicos. Como não trabalhava na área de saúde, Dr. Ronaldo Laranjeira oportunizou estágio na UNIAD para que eu pudesse atender a essa exigência do curso.

Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional e sua história com a UNIAD.

Iniciei como voluntária ouvinte no ambulatório de cocaína, crack e estimulantes. Mas, logo iniciei os atendimentos de grupo psicoeducacionais e os atendimentos individuais. Como tinha experiência no atendimento com famílias, assumi o Grupo de Orientação Familiar na Dependência Química. A partir daí já estava absolutamente envolvida com a área da dependência química.

Dra. Ilana Pinsky, recém chegada dos EUA, convidou-me para integrar o novo ambulatório da UNIAD dos adolescentes. Foi uma oportunidade incrível! Nesse momento criamos um ambulatório com uma diversidade de modalidades terapêuticas (reabilitação cognitiva, PEI-Programa de Enriquecimento Instrumental, atividades psicopedagógicas, grupo psicoeducativo, além dos psicoterapêuticos) e tivemos reconhecimento de vários profissionais da área de saúde e assumi a coordenação do ambulatório no ano seguinte.

Além disso, Dr. Ronaldo mostrou-se interessado nos projetos psicopedagógicos como recurso na reabilitação cognitiva, reinserção acadêmica e social. Ou seja, realização de um sonho: INTEGRAÇÃO DA SAÚDE e EDUCAÇÃO na Dependência Química.

Dra. Fátima você acredita que hoje as mulheres estão conquistando um espaço maior no mercado de trabalho?

As mulheres sempre tiveram uma participação ativa na sociedade apesar do pouco reconhecimento. No caso do Brasil, temos na época Imperial a atuação da Princesa Isabel que foi cognominada a Redentora por ter, através da Lei Áurea, abolido a escravidão no Brasil. Podemos citar exemplos de mulheres que lutam por mudanças em diversas áreas: educação, saúde, social:

A área social, Zilda Arns fundou em 1983 a Pastoral da Criança, órgão ligado à Igreja, para ajudar famílias carentes a criar os filhos em boas condições de higiene e saúde. A Pastoral se tornou um dos maiores programas sociais da sociedade civil em todo o mundo. Mais de 250 mil voluntários atendem quase 2 milhões de crianças. A seu trabalho, deve-se grande parte da queda nos índices de mortalidade infantil. Outro exemplo de pioneirismo  no reconhecimento da emergência, na década de 1970, dos movimentos sociais que abrigavam minorias por questões de gênero, étnico-raciais ou de orientação sexual foi a saudosa Ruth Cardoso. O trabalho da antropóloga pôs em pauta a pesquisa sobre esses movimentos no meio acadêmico brasileiro. Enquanto primeira-dama do Brasil, criou e presidiu o programa  Comunidade Solidária de combate à exclusão social e à pobreza, dentro de uma perspectiva emancipatória. Em 2000, ela criou a organização não governamental Comunitas, na qual atuou até sua morte.

Na área Educacional, temos Viviane Senna  tem como causa combater a repetência nas escolas e a baixa qualidade do ensino por meio do Instituto Ayrton Senna. O instituto já investiu R$ 160 milhões e atendeu quase 8 milhões de crianças em 1.360 municípios, melhorando a formação de 410 mil educadores. Representou uma nova forma de trabalhar na área social, trocando a filantropia apenas assistencial e caridosa por uma abordagem empresarial.

E a nossa grande  promotora da causa do voluntariado no país Milú Villela, uma das mulheres mais ricas do país (é acionista do Banco Itaú) usa sua capacidade de mobilizar recursos e pessoas em prol de suas causas, unindo poder econômico e poder político. Comanda o Instituto Faça Parte, que, desde 2001, patrocina iniciativas de voluntariado. Milú encabeça o projeto “Todos pela Educação”, uma articulação de benfeitores com o objetivo de erradicar o analfabetismo no Brasil até 2022. A ideia é criar um projeto de longo prazo que se torne uma política permanente do estado brasileiro.

E, na área da Dependência Química, nossa guerreira, Mara Silvia Carvalho de Menezes, fundadora do Amor-Exigente, há 30 anos nos apresenta ideias e posições para serem seguidas e divulgadas junto à comunidade.

A participação das mulheres com idade ativa (16 anos ou mais) no mercado de trabalho cresceu de 50% (2000) para 55% (2010), de acordo com recente trabalho do IBGE, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, usando dados do Censo de 2010, comparados aos de 2000. Porém, a luta pela equidade de gênero ainda está muito longe de acontecer nos próximos anos. Nós, mulheres, ainda enfrentamos uma série de adversidades no cotidiano: dupla jornada de trabalho (fora de casa e no domicílio) falta de equiparação salarial, preconceitos na comunidade, violência doméstica, assédios morais e sexuais.

Por toda essa situação, é fundamental que as políticas públicas tenham foco nos direitos das mulheres como: o do acesso às creches, Educação Infantil, Educação Básica e Média possam deixar seus filhos em tempo integral para  trabalharem com tranquilidade; Projetos De Orientação Sexual e de Prevenção ao uso de Drogas nas escolas. Visando a igualdade na questão dos gêneros, combate à violência doméstica e o suporte as mães na prevenção de drogas pelos seus filhos bem como no tratamento dos dependentes químicos. As mulheres brasileiras, embora sejam mais da metade da população, ocupam apenas 9% das cadeiras na Câmara dos Deputados. 

 Quais são os principais motivos para comemorarmos essa data?

Temos que comemorar essa data, pois, na sociedade contemporânea, a luta pelos direitos da mulher é permanente. Há aspectos econômicos, sociais e culturais. Tivemos a conquista do direito do voto feminino, a revolução sexual a partir dos anos 60 permitiu às mulheres uma progressiva e forte inserção no mercado de trabalho. Todo esse processo vem adquirindo uma força simbólica expressiva. O Dia Internacional da Mulher é uma data para avaliações e reflexões tanto das questões de valorização do gênero, mas também para discutir a condição feminina, de maneira aberta e propositiva, no Brasil e no mundo.

Qual a importância da pesquisa do LENAD Família para as mulheres?

Poderíamos dizer que pelo fato do LENAD Família ser a maior pesquisa realizada mundialmente com famílias de dependentes químicos já é de uma importância singular.  A partir do LENAD Família as políticas de saúde pública na área da dependência química têm todo aparato para serem eficazes. Alguns dados importantes no que se refere à mulher nesse levantamento é de que são elas que permanecem  lutando para que seus entes tenham tratamento e condições de recuperação. A maioria são mães, mas, também temos irmãs, avós, esposas e até mesmo ex-esposas. Ou seja, mulheres não abandonam. O impacto devastador é o dado que mostra que essas mães além de serem as responsáveis pelo tratamento de seus entes, também são as mantenedoras da família. Ou seja, um encargo absurdo! E, não contam com suporte nos serviços de saúde ficando a mercê de crenças distorcidas quanto às causas do uso de drogas, tratamento e arcando com custo do tratamento. Os sentimentos relatados por essas mães são de impotência e tristeza.  Imaginemos uma mãe com filho doente e sentindo-se impotente…

 Quais são seus hobbies?

Meus hobbies realmente recarregam minha bateria: ida ao cinema, aulas de arranjos Florais com a mestra Ana Foz, jantares com um grupo de amigas de longa data, almoço de domingo com meus 4 filhos e escapadas com meu marido para meu refúgio na cidade de Gramado.

Dra. Fátima, por gentileza, deixe uma mensagem para as leitoras do site da UNIAD.

Nós mulheres temos uma missão: SER FORTES.  E é muito fácil reconhecer as mulheres fortes: são elas que se constroem umas as outras em lugar de destruírem entre elas.

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Finalizo agradecendo a participação da Dra. Fátima e parabenizando todas as mulheres, especialmente nossas leitoras,pelo Dia Internacional da Mulher, comemorado dia 08 de março.

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

**Dra. Fátima – PsicólogaDoutora em Ciências pelo Departamento de Psiquiatria da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) – Pesquisadora da UNIAD/UNIFESP na área de Família – Coordenadora do modulo de Dependência Química do Curso de Especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência (CESMIA-UNIFESP) – Diretora Clínica da “Clinica Alamedas de tratamento e Reabilitação da Dependência Química” – Curadora da Addiction and the International Family Network (AFINET/ – Universidade de  Birmingham- Inglaterra.

Referências:

[1] http://inpad.org.br/wp-content/uploads/2013/11/PressFamilia.pdf

[2] http://www.uniad.org.br/interatividade/livros/item/24268-toninho-e-a-po%C3%A7%C3%A3o-da-falsa-felicidade

 

 

 


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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