29 de março de 2024

MANIFESTO FEBRACT ao ESTADÃO

15 de fevereiro de 20178min0
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Felicito o jornalista Carlos Alberto Di Franco por seu texto intitulado “O STF e as drogas” em 13/02/2017, apoio o mesmo, bem como apoio a posição de colegas na defesa da ideia de quem deveria decidir sobre a saúde da população seriam os médicos e no que se refere à temática álcool e outras drogas, os médicos psiquiatras. Sou Psicólogo Especialista em Dependência Química, Coordenador Técnico da FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas.

 A FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas, fundada por Padre Haroldo Rahm SJ e colaboradores em 1990, ao longo de sua história já capacitou por meio de cursos, congressos e seminários cerca de 20.000 pessoas. Conta com cerca de 300 Comunidades Terapêuticas filiadas, participou ativamente da formulação das legislações que normatizaram e regulamentaram o modelo Comunidade Terapêutica no Brasil até hoje, possui Delegacias e outras representação em Fóruns e Conselhos Estaduais de Políticas Sobre Drogas em diversos Estados brasileiros.

 No exercício de suas atribuições e no trabalho junto a suas filiadas, a FEBRACT vem acompanhando ao longo das duas últimas décadas mudanças no perfil sócio demográfico do público atendido por estes serviços, bem como em seu histórico de consumo de substâncias psicoativas, idade de experimentação, além da modificações na prevalência das substâncias que, isoladamente mais motivam a procura por ajuda.

  Observa-se atualmente um público com pouco suporte social, sem vínculos empregatícios ou atividades de geração de renda, baixa escolaridade, problemas judiciais referentes aos atos cometidos em função da manutenção do uso de substâncias, idades de experimentação cada vez mais precoces e a maior incidência de usuários de crack, cocaína e de poli usuários, em substituição a uma maior prevalência anterior de usuários de álcool.

 As observações aqui relatadas, coincidem em muitos aspectos com o descrito por estudos realizados no Brasil com a população em geral.

  De maneira concomitante, observa-se um padrão de comportamento, uma espécie de escalonamento no uso de substâncias psicoativas no qual inicia-se pelas drogas lícitas e, portanto de uso mais tolerado e de menor impacto (tabaco e álcool), culminando com o uso de drogas ilícitas (cocaína e crack), ou seja: a partir das substâncias lícitas, a idade de experimentação avança na proporção em que surge na vida do indivíduo o uso de substâncias com maior potencial de abuso e/ou ilícitas.

   E ainda, a constatação do uso precoce das diversas substâncias, que permite pressupor o favorecimento do desenvolvimento da dependência, além da exacerbação do comprometimento psicológico, social e cognitivo dos indivíduos, tornando seu processo de recuperação mais oneroso e complexo, suscetível a um maior número de episódios de tratamento e intervenções.

   Tais observações encontram igual representatividade nos levantamentos realizados com a população em geral, onde da mesma forma observou-se uma tendência a uma “escalada” no uso de substâncias psicoativas, transitando-se do uso de substâncias lícitas e de uso mais tolerado, para o uso das substâncias ilícitas.

   Em sua experiência, a FEBRACT acredita que tais constatações estão estreitamente relacionadas a ausência de políticas de controle eficazes, combinadas a uma maior oferta de substâncias psicoativas, sobretudo as lícitas ocasionando maior facilidade de acesso e aumento dos problemas relacionados ao seu consumo.

   Diante do exposto, a FEBRACT manifesta-se de forma contrária a quaisquer ações que favoreçam interesses quaisquer que não os interesses de nossa sociedade e que possam expor de forma direta ou indireta nossa juventude a uma maior oferta de substâncias com potencial de abuso, ou que de alguma maneira, incorra no risco de favorecer o acesso a estas mesmas substâncias, desta forma compreendemos que a descriminalização julgada pelo STF, caso aprovada, agravará sobremaneira tais fenômenos.

   Não obstante, a FEBRACT e suas filiadas, mostram-se favoráveis ao diálogo e a busca por soluções mais eficazes para a questão do uso problemático de álcool e outras drogas em nosso país.

   A FEBRACT compreende ser imperativo o implemento de programas de prevenção do uso de substâncias psicoativas nos diversos segmentos da sociedade, com vistas a postergar a idade de sua experimentação como uma das possíveis formas de se intervir em relação aos fenômenos aqui descritos.

   A FEBRACT reconhece o direito e a importância dos cuidados e da assistência à parcela da população que opta pela abstinência de substâncias psicoativas, bem como reconhece a validade de todas as abordagens e estratégias que visam atender a esta população.

   A FEBRACT compreende sobretudo, a premente necessidade da construção de uma rede plural de Atenção ao Usuário Álcool e Drogas no Brasil, capaz de atender a diversidade de demandas e especificidades de todo aquele que sofre em consequência do uso de álcool e outras drogas.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS  – FEBRACT

Matheus Leite Praça – Coordenador Técnico – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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